segunda-feira, 15 de setembro de 2008

A lenda

Nossa historia começa no subúrbio do Rio de janeiro, lugar de gente pobre, de muitas crianças, aprendizes do sonho.
Na descida do morro, rostos angelicais, a maioria é de crianças negras, cuja em face à vida lhes oferece pouca coisa, já no asfalto lá vão os meninos com os pés descalços, que não sabem onde fica o próximo presépio, só conhecem as arvores iluminadas pela luz que pisca na volta de seus afazeres.
O cansaço carregando o isopor de picolé e no bolso alguns trocados, mas nem lembram que é véspera de natal, mais pelo caminho ouvem musicas natalinas.
Nas vitrines os brinquedos refletem o desejo no fundo dos olhos, mas para esses meninos, a volta para casa é o refugio feliz, mesmo que lá lhes espere o quarto de miséria, onde vivem a mãe e os irmãos.
Na verdade não se tem tempo para nada, à vida é corrida demais, o estômago dos irmãos menores não pode esperar, talvez no ano que vem, agora é preciso descansar para o outro dia.
Os meninos de cansaço vão dormir, amanhã é um novo dia.
O pai está na prisão, resta pensar que eles são meninos, mas tem que encarar a vida mais cedo.
Na entrada da favela soldados do trafico aliciam os menores com as ofertas do dia, maconha de cinco, cocaína de dez, o circo está sempre armado como uma ratoeira, escolhendo sua vitima sem rosto, que dos dez anos de idade não chegam aos vinte cinco.
O bom velhinho está no caminho da roça, ajudando de longe um espirito de natal que anda distante daquelas paradas, não adianta choro quem ninguém vai escutar, nada vai resolver, quem sabe Deus!
Nesse lugar mora um menino, chamado João, que foge da mentira, não tem medo de ser feliz, encara de verdade os obstáculos, tem orgulho de ser da favela, bate no peito e diz que é preto e pobre, mas um dia vai ser alguém.
João por onde passa abre um sorriso cativante, as pessoas são apenas pessoas, João é um menino comum, tem quatorze anos e caminha para os surtos que a cidade traz, mas não se importa com os espinhos cravados na carne, sabe que tem que fazer o melhor, matar um leão por dia, ser sempre valente, mesmo que tenha que chorar no banheiro em prantos calados.
Todo o dia é dia de viver, dá um passo de cada vez é possível, mesmo que o horizonte se mantenha distante.
As noites são estreladas, os olhos brilhantes de João procuram a estrela guia, milhões de galáxias a percorrer, mas seus pés estão pregados no chão, sem duvida, João não se esquece que existe algo muito maior, mas assim mesmo tem pressa para ir rumo a vida.

A felicidade não fica muito longe, alias fica a duas quadras do coração.
O fato de ser adolescente não impede de mantê-lo na direção do sonho, o tempo vai descobrindo João, João nasceu no dia 25 de dezembro, um bem aventurado, a meia noite nascia João de Jesus, muito esperado, em sua manjedoura era menino comum.
Mas desde suas primeiras horas de vida, havia um certo brilho nos olhos de João.
O pai disse vai se chamar João, a mãe relutou, pois sabia que daquele dia em diante seria difícil para todos, afinal de contas era mais um João para comer.
João foi crescendo e vendo todo sacrifício que a família fazia, para custear o leite, sua mãe tinha que fazer faxinas.
João é uma criança feliz, com liberdade dá os primeiros passos pela comunidade sem medo, mas atrai a curiosidade de todos, pois João tem olhos azuis e é preto como um tição, os vizinhos falam que é
um anjo disfarçado de menino.
Sem duvida, pode até ser que seja algum tipo de milagre, pois desde que João chegou à favela não parou de acontecer coisas estranhas.
Certo dia, João brincava em frente à casa de dona Sônia, que não podia engravidar por problemas de saúde que tinha.
Dona Sônia fixou os olhos em João e desejou que ele fosse seu filho, meses depois, dona Sônia engravidou.
Todos dizem que João é um santo de Deus, menino exemplar, que não mede esforços para ajudar as pessoas.
João é a lenda viva que pode ser tocada, existe uma certa magia, uma concepção silenciosa, que apenas é.
João é um ser especial que transforma o mito em fé, os olhos azuis de João serão um céu de favores, tudo leva a crer, que tudo fica mais fácil se entregarmos à alma a este prodígio santo, pois nunca é coincidência quando falamos de fatos, fatos estes, que buscam celebrar a vida em excelência.
Um dia das janelas dos barracos o anjo João personificado na figura do Pai baterá asas e levará consigo um saco de milagres, cheios de misericórdia e derramará sobre o sofrimento daqueles que pedem em silencio.

Marcelo Planchez.

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